segunda-feira, 22 de junho de 2009

Um não ao "SE"...


Pouco sei dizer do que poderia ter sido. Sabe aquele tanto de "Se" que nos dizem, que a gente pensa... diga não a ele.
Não dá para passar a vida pensando nas possibilidades não vividas, nos passos que não demos, no emprego que não veio, nos filhos que não tivemos, na prova que perdemos, no amor que se foi, na viagem que não fizemos, na esquina que não viramos, na carreira que não escolhemos, nos amigos que não encontramos.
Sobre o que não aconteceu pouco sei dizer e menos ainda quero pensar.
Prefiro falar sobre "o que está sendo", assim mesmo... "gerundiando". Porque outra tolice é pensar só no que "é" como um fato isolado com princípio, meio e fim.
Sei falar muito bem sobre os passos que tenho dado pelas ruas e na vida.
Digo com certa propriedade a respeito do meu trabalho diário, da pequena que vive comigo, das provas que fiz, do amor que insiste em não partir, das inúmeras viagens que fiz - grandes e pequenas, das esquinas que viro e atravesso todos os dias, da carreira que escolhi e dos amigos que tenho encontrado.
Enfim, pensei esse texto enquanto caminhava, voltando do trabalho. Pensei e agradeci que tudo esteja acontecendo assim, do jeitinho certo, no tempo certo, sem "Se" nem "Senão".

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Por que eu não quero "adevogar"?

Acredito no poder da informação e da palavra. Acredito na formação do profissional de imprensa. Enfim, acredito do meu DIPLOMA!!!

O domínio das técnicas aprendidas nos quatro anos de faculdade muito tem me servido. Não creio que folhear manuais ou simplesmente gostar de escrever me dariam a destreza que tenho com as palavras. Sim, eu tenho técnica e talento. Prestei vestibular, frequentei aulas de redação usando máquinas de escrever, tirei foto com máquinas manuais, diagramei sem computador, aliás, na minha época, jornalista não "se dava bem com computador".

No entanto, o senhor ministro do STF acha que não preciso do MEU diploma para exercer a MINHA profissão.

Ele alega que a exigência cerceia o livre direito de expressão, não consigo enxergar isso. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Outro motivo, segundo ele, é que a profissão não oferece nenhum risco, assim como um chefe de cozinha!!

Fico aqui, com meus botões, tentando achar o risco que oferece a sociedade um "adevogado", um juiz. Penso que eles, assim como nós, JORNALISTAS, oferecem risco sim. Se não matamos pessoas quando cometemos enganos no exercícios de nossa profissão, podemos matar a honra de qualquer cidadão.

Mas, mesmo assim, senhor ministro, mesmo sem uso, meu DIPLOMA tem valor. E prefiro ser jornalista a "adevogado". Prefiro contar fatos a arbitrar sobre o diploma alheio.

Faça bom uso do seu, que continuarei fazendo do meu!!!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A porta aberta, o porto, a casa, o caos, o cais...


Confesso que durante grande parte do show o que me ocupou foram pensamentos sobre o blog.

O que escrever, qual título dar??? A cada frase do Anitelli, a cada música vinha uma ideia, um início...

Pensei no meu dia que começou às 6:15 da manhã, muito trabalho, ônibus para casa para pegar a mala, taxi para o terminal, vôo Confins/Santos Dumont, taxi para casa da Ia, banho correndo, emoção... taxi para Fundição Progresso... e enfim, depois de muita espera... “Sem horas e sem dores, respeitável público pagante, com vocês: O Teatro Mágico!!!”

A POESIA PREVALECE!! A POESIA PREVALECE!!!

O primeiro senso é a fuga, bom, na verdade é o medo...
E por ai vai... alegria em forma de música!!! Esse é O Teatro Mágico!!!
Mas vamos às abordagens, queria falar que algumas coisas não têm preço, queria colocar vários trechos de músicas, várias impressões. Mas o fato é que acabei atropelada pela emoção, pela alegria e estar ali. Eu e Lu (uma das meninas). De táxi pelo Rio de Janeiro, sem medo, porque a vontade supera todos os medos.

A Fundição é um espaço muito legal. Quem conhece Harry Potter acha parecido com um campo de quadribol. Quem não conhece acha parecido com uma fundição mesmo...rss

Não sei mais o escrever, o show ainda preenche todos os espaços do meu pensamento, e tomada por um egoísmo súbito, não quero deixar isso escapar para o “papel”.

Já estou esperando o próximo!!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Devendo um post...

Bom, faz tempo que não consigo escrever. Depois da chegada das "meninas" o meu tempo realmente encolheu.
Hoje, no entanto, lembrei-me de uma resenha lida há alguns anos, e resolvi postá-la.
Foi publicada no caderno Pensar do jornal Estado de Minas em 2005. Não li o livro em questão, mas a resenha me emocionou. Pretendo lê-lo dia desses...

...ai vai...

Somos todos COMUNS (João Paulo Cunha)

Narrativas recolhidas pelo escritor americano Paul Auster mostram que toda vida tem uma história que merece ser contada e que ser apenas uma pessoa pode ser sinal de humanidade.

Um dos livros mais inteligentes escritos no século passado, O mal-estar na civilização, de Freud, abre com uma reflexão sobre o fato de que, quase sempre, vivemos tão marcados por ambições menores que deixamos passar batido o essencial. Escreve Freud: “É impossível fugir à impressão de que as pessoas comumente empregam falsos padrões de avaliação – isto é, de que buscam poder, sucesso e riqueza para elas mesmas e os admiram nos outros, subestimando tudo aquilo que verdadeiramente tem valor na vida”. Como tudo em Freud, mesmo não sendo o assunto do livro, essa impactante abertura fica depois da leitura. Como uma esfinge.
Um livro publicado recentemente pela Editora Companhia das Letras, Achei que meu pai fosse Deus, do romancista Paul Auster, faz aquela impressão ficar ainda mais forte. Auster, autor de belos romances e memórias, como O livro da solidão e Da mão para a boca, conta que, depois de um convite para ler histórias em uma rádio, resolve convocar os ouvintes para que mandem suas próprias histórias de vida. Em pouco tempo recebe mais de 4 mil. O livro é uma seleção desses relatos.
O que mais impressiona é o fato de que toda vida, quando não se perde naquilo que Freud alertava como um falso padrão, tem uma história que merece ser contada. Feito de gente comum, que vive a vida verdadeira, o livro faz rir e chorar com seus textos sem pretensão literária, escritos de forma direta, falando de amor, bichos, morte e família. A idade dos narradores vai do final da adolescência à velhice. Um painel da experiência humana da gente comum, mas que tem a capacidade de emocionar.
O que fica ao final da leitura de casos singelos é o valor da existência. Toda vida tem seu momento de beleza ou tristeza que merece o registro, seja para ensinar e ampliar nossa capacidade de sentir, seja para mostrar que a vida humana, como um grande tecido, é feita de pequenos gestos dos quais todos participamos. Todos tivemos nosso primeiro amor e primeira perda: um animal de estimação, um medo inexplicado, um alumbramento. Nesses momentos, pode acontecer o que Freud chamaria em seu livro de “sentimento oceânico”, uma sensação religiosa de participar do universo.
Nos relatos reunidos por Paul Auster, quase nunca há histórias de gente que lutou para ficar rica, famosa ou poderosa. As pessoas, quando tiveram que escolher um momento marcante da vida, parece que foram tomadas por outra escala de valores. Lembram de uma risada do pai (que morreu na guerra, mas a guerra não importa), do colarinho desabotoado pela professora como primeiro gesto de descoberta da sexualidade, do vestido branco com que a avó foi enterrada. Há tristeza, mas também humor, como na história da família de agentes funerários, que respeitam a morte, mas se divertem com os sustos pregados pela súbita contração de um corpo.
A literatura do século XIX, na virada para o XX, já havia descoberto essa via. Para os grandes romancistas, as reminiscências da infância, o medo da justiça, o amor não correspondido, tudo isso podia fazer de qualquer vida uma grande história. Sai o herói romântico e entra a gente comum. James Joyce, autor de Ulisses, que narra um dia na vida do comuníssimo Harold Bloom, escreveu um dos mais importantes romances de todos os tempos tendo como personagem uma pessoa como você, capaz de tudo que o arco da experiência humana possibilita.
Em Ulisses, ninguém é nobre ou tem ligações importantes. Carregamos no coração a capacidade de protagonizar lindas histórias. Os heróis não são os outros. O neurologista americano Oliver Sacks deu um passo além nessa história de tornar a todos nós heróis da vida real. Em seus livros, pacientes que perderam funções neurológicas importantes continuam a viver e ser felizes. Tem o homem que confunde sua mulher com o chapéu, o cirurgião que não resiste à compulsão de imitar as pessoas a seu lado, o homem que não enxerga um lado do corpo, o adolescente incapaz de manter uma conversa, mas capaz de retratar com detalhes cenas jamais vistas.
Estes homens e mulheres mostram que o heroísmo de verdade está em simples tarefas do dia-a-dia. Imagine o que é sair de casa, pegar uma condução, atravessar a cidade e chegar ao trabalho para ganhar a vida sem ter as mesmas condições das pessoas ditas normais. Pode ser a falta de um órgão, a perda de uma capacidade aparentemente banal. A cada dia, milhões de pessoas perfazem o périplo de Ulisses, o herói, para construírem o destino de Ulisses, o “homem comum, enfim”, evocado por Joyce em seu Harold Bloom. O que todas essas histórias parecem sinalizar é que a vida mesma tem sido relegada a segundo plano. Vive-se hoje o prazer dos outros como uma forma adiada da nossa própria realização. As pessoas parecem ter perdido o sentido do maravilhoso que se esconde na existência. Se é comum amar para toda a vida, manter um relacionamento como se nunca fosse acabar, construir um puxado para receber os amigos no fim de semana, reservar um bom tempo para ir com os filhos ao parque – se tudo isso se perdeu, parece que nos perdemos todos. Ao lado desse resgate do prazer das coisas simples, parece haver uma indicação de que os valores precisam ser recalibrados.
A colocação da política em segundo plano é uma forma de capitulação, como se não pudéssemos mais agir para reconfigurar o mundo. A crise das utopias, que um dia foram chamadas de “grandes narrativas”, talvez nos exija hoje um olhar para as pequenas narrativas como signo de humanidade. Não é preciso ser herói, rico, famoso ou poderoso. Basta ser cidadão.